Fiz esta matéria para o Caderno Vida & Saúde, do Jornal Opinião, no mês de maio.
17 anos de caminhada
Durante 50 minutos, o Jornal Opinião acompanhou o quarteto Ênio, Benato, Valmir e Ivanir
A missão de acompanhar quatro amigos que praticam a caminhada em Encantado começou às 16h30min de terça-feira (17). A saída foi da casa do vendedor comercial da Rádio Encantado AM, Ênio Sartori (66), na Rua Sete de Setembro. Algumas quadras à frente, encontramos os professores aposentados Ivanir Bazanella (66) e Valmir Griesang (70). Logo em seguida chega o médico Volmar Benato (57). Com o time completo, seguimos em direção aos altos do Bairro Porto XV.
“Caminhada é uma cachaça”, diz Bazanella. “É melhor que cachaça. Antes, éramos caminhantes de finais de semana e, com o passar do tempo, decidimos fazer todo o dia”, acrescenta Griesang. “Se a gente não caminha um dia, parece que fica faltando alguma coisa”, completa Bazanella.
O futebol é um dos assuntos preferidos do grupo durante a pernada. Logo no primeiro contato, Benato parabeniza o colorado Ênio pelo título de Campeão Gaúcho: “Venceu o menos ruim”, provoca. Em seguida, o cardiologista já traça um perfil dos companheiros. “Somos dois gremistas, eu e o Griesang, que analisam as coisas com razão e não com emoção. Tem um colorado fanático, mas fanático, mesmo, chega a ser irracional, que é o Ênio. E um colorado ponderado, racional, que analisa o jogo, o Bazanella”, conta. “Às vezes eu fico no meio deles para evitar alguma briga”, brinca Bazanella.
Os amigos logo são identificados por outros pedestres, trabalhadores, motoristas e moradores. “E aí, hoje tão podendo!”, fala um operário de uma obra. “Estão se preparando para a São Silvestre?”, pergunta outro. “É isso aí, vamos fazer força!”, diz um agricultor. “Ênio, o Ibama vai interditar o Olímpico porque mataram 45 mil azulões”, grita um motorista.
E o grupo sempre troca um diálogo e já emenda outra piada, mas sem parar de caminhar. “Isso chama a atenção. As pessoas nos conhecem e até estranham se ficarmos alguns dias sem aparecermos”, diz Benato. “Tem um casal de idosos que fica alegre quando passamos em frente a sua casa. Os dois velhinhos ficam nos esperando para nos cumprimentar”, diz Ênio.
Os minutos passam e já estamos no “famoso Loteamento do Guido”, como diz o Ênio. “No passado, isso era um sítio”. O mais visado para as brincadeiras é Benato. “É um orgulho para nós caminharmos ao lado de um médico”, comenta Ênio. “Ele é que sempre determina o horário”, emenda Bazanella. “Daqui a pouco vai tocar o telefone dele”, prevê Griesang.
A caminhada é mais um dos momentos de encontro dos quatro amigos que, frequentemente, reúnem-se para confraternizar ou organizar viagens.
Os benefícios
Quase no final do percurso, já no centro da cidade, o médico Benato comenta sobre os benefícios que a caminhada traz para a saúde das pessoas. “Sempre estimulo as pessoas a caminhar. E este grupo foi o que realmente assimilou. Somos o grupo mais antigo que caminha. Somos fiéis, tanto no inverno quanto no verão. Muitas vezes caminhamos com chuva. Eu, às vezes, falho, mas compenso com a prática do tênis”, revela.
Conforme o cardiologista, o recomendado é complementar o exercício aeróbico, no caso a caminhada, com uma atividade que reforce a estrutura muscular, como os exercícios na academia. “Caminhar te dá condicionamento de pernas e cardiopulmonar. Mas não te dá estruturação de tronco, muscular”.
A queima de calorias é outra vantagem. Benato esclarece que a pessoa que caminha uma hora por dia perde cerca de 300 calorias. “Cinco vezes por semana, gasta 1.500 calorias. No mês, são seis mil calorias. Isso corresponde a um quilo que tu emagreces ou deixas de engordar”, salienta. “A caminhada traz muitos benefícios para o coração, pulmão, controla os níveis de colesterol, triglicerídeos, diabetes”.
Depois de 50 minutos, chegamos à Praça da Bandeira, fim do percurso, e o grupo se despede. “Até amanhã”, diz Griesang. “Mesmo horário pessoal”, reforça Bazanella. E tudo isso tem se repetido há 17 anos, desde fevereiro de 1994.