Por sugestão da colega Angela Reale, fiz esta reportagem que circulou na edição do Opinião desta sexta-feira.
Os pombos da família Klauck
Casal Anisio e Odila, de 72 e 70 anos, trabalha na criação de pombos no interior de Roca Sales.
Local possui 600 matrizes. Filhotes são vendidos para criadouro de Porto Alegre.
Basta um movimento de Anísio Klauck, 72 anos, em direção ao saco de milho e alguns gritos chamativos para que centenas de pombos apareçam de todos os lados e comecem a se aglomerar ao lado do galpão. “É a hora da comida e da revoada”, emenda a esposa, Odila, 70 anos.
A cena se repete todos os dias na propriedade do casal ,em Linha Barão do Rio Branco, distante cerca de quatro quilômetros do centro da cidade. O local abriga o único criadouro de pombos brancos do Vale do Taquari. O trabalho serve de complemento na renda da família, que também participa da feira do produtor de Roca Sales para vender frutas, schmia, grostoli, frangos e linguiça.
600 matrizes ocupam uma área de 600 metros quadrados distribuídos em quatro galpões. A estrutura era utilizada para a criação de suínos. “Como o custo para reformar era muito alto resolvemos aproveitar o espaço para colocar os pombos”, explica o técnico em agropecuária da Emater, Deoclesio Piccoli, que há 15 anos vem acompanhando o trabalho da família Klauck.
Ninhos de galões de plástico
São dezenas de ninhos, feitos com galões de plásticos cortados pela metade, fixados em postes de madeira e forrados com serragem. Cada ave coloca dois ovos por vez. A fêmea e o macho se revezam para chocar durante 15 dias, quando nascem os filhotes. Os pequenos se alimentam pegando a comida direto no bico da pomba-mãe.
O trabalho é tranquilo, garante Anísio. Além de tratar as aves com milho e ração, de tempos em tempos é feita a limpeza dos ninhos com a troca da serragem. “Enchemos os cochos de comida, quantidade suficiente para alimentar as aves por até três dias”, explica o produtor, que há mais de 40 anos lida com criação de pombos. “Meu sogro também tinha, mas não com os cuidados que se têm hoje”.
Filhotes são entregues com duas semanas
Depois de duas semanas, os filhotes estão prontos para serem entregues a um criadouro de Porto Alegre, que os revende já adultos para apresentações em eventos e feiras. O empresário paga R$ 9,00 por unidade. Conforme Deoclesio Piccoli, somente os brancos ou de penas claras é que tem valor. “Os escuros não tem mercado”, explica. Por isso, existe o cuidado para evitar a presença de aves intrusas a fim de não correr o risco de acasalarem com as matrizes brancas. “Houve um tempo em que entregávamos mais de 230 pombos por mês, hoje caiu bastante”, lamenta Anísio. Atualmente, o número chega à média de 40 filhotes.
O mercado para este tipo de ave ainda é restrito na avaliação de Deoclesio Piccoli. “Até teria espaço para mais criadouros na região, mas aí acredito que seria mais voltado para o consumo da carne. A serra gaúcha utiliza muito esse tipo de carne na sua gastronomia. Nesse aspecto, poderia ter uma boa demanda”, projeta o técnico da Emater. Pensamento diferente tem o casal Anisio e Odila, que rejeita a possibilidade de sacrificar as aves do criadouro para colocar na panela. “Nem pensar”, reforça Odila.